quinta-feira, 14 de junho de 2018

A lenda do melhor vendedor de picolés

Era uma vez, em meados de 2009, eu era bem novo, recém chegado na pequena cidade de São Lourenço-MG, para administrar uma lanchonete no Parque das Águas da cidade. A equipe era grande, e dentre os produtos que vendíamos, existiam três carrinhos que rodavam pelo parque inteiro, vendendo picolés. Normalmente, eram contratados adolescentes em busca do primeiro emprego, para fazer essa função, ganhando comissão sobre as vendas. 

Os meninos que exerciam essa função vendiam bem, tinham um rendimento bem satisfatório, e em determinado momento, ouvi comentários entre a equipe: "os garotos são bons, mas igual ao Teté, não existia, ele era uma lenda. Nunca vi ninguém vender como ele, sozinho, ele vendia mais que todos os garotos juntos". Assim que eu soube disso, comecei a me interessar por esse sujeito, afinal, se existia uma lenda mesmo, eu queria conhecer com os próprios olhos e queria ele trabalhando pra mim. Soube que era mais velho, acima dos 40 anos, e havia trabalhado por alguns anos lá, e por alguma razão, saiu e nunca mais havia voltado.

Como eu adorava histórias como essa, comecei a tentar contato com o tal Teté. A equipe conseguiu o contato, mas me informou que o famoso vendedor de picolés, não tinha a intenção de voltar. E sempre que podia, eu insistia, mandava recado, pedindo que ele viesse pessoalmente conversar, e nada acontecia. Até que passado um tempo, em um dia tranquilo, um rapaz apareceu dizendo que queria falar com o novo dono, e eu respondi que era eu. 

O rapaz deu a gargalhada costumeira dele e falou:

- "Não, eu quero falar com o dono, o sr. Victor, deve ser seu pai", e já sem paciência, contrariado eu falei:

- "Sou eu mesmo, não sou senhor nenhum, só Victor, prazer".

Foi então que ele com aquele sorriso debochado, apertou minha mão e se apresentou como o Teté, vendedor de picolé. Conversamos, ele tinha um jeitão todo próprio, lembrava o personagem Chaves, usava boné do Flamengo, seu time de coração, torcedor fanático; marrento, brincalhão; nas horas vagas, gostava de beber "uns goró", segundo ele, fazer uma "fézinha no jogo do bicho" e ficar acompanhando o jogo de bocha . Era metódico, um dia antes queria levar o uniforme para casa, lavar, passar; lavava o carrinho dele na véspera, tinha que estar brilhando, ter o guarda sol mais bonito que tivesse, onde ele prendia o radinho de pilha para ir "ouvindo os modão", colava um monte de adesivo do escudo do Flamengo, prendia uma buzina de bicicleta, levava o troco na pochete, e não usava calculadora, fazendo todas as contas e dando o troco "de cabeça", sempre certo, não errava (mas que ele não saiba que contei, não usava calculadora também porque não enxergava os números pequenos, e se recusava a usar óculos, segundo ele, coisa de "véio"). 

Nunca me apresentou a xerox obrigatória de seus documentos, e sempre dizia que se eu quisesse saber sobre ele, era só perguntar pra "turma", pois todos o conheciam, se resumia a dizer que o nome era Paulo Henrique, falando o nome sempre bem baixinho, afinal, era Teté o nome dele. Era um homem de palavra, afirmando sempre que "se falou, tava falado". No primeiro dia de trabalho, percebi que ele era diferenciado, eu nunca tinha visto nada igual, mas eu não o elogiava muito publicamente, senão ele se acharia ainda mais! 

Chegava no fim do dia, ele perguntava: 

-  "E aí patrão? Foi bom ou não foi? Tá feliz?"

Eu tentava segurar o riso (e nunca conseguia) e falava pra ele:

-  "Já vi melhores, mas dá pro gasto"

Naturalmente, o tempo passou, e nos tornamos grandes amigos, era um prazer imenso trabalhar ao lado dele. Com o tempo, ele vendia tanto e tinha intimidade para falar comigo, então me pediu que deixasse apenas ele vendendo, pois dava conta do serviço sozinho e passaria a ganhar mais. Não tive como negar, afinal, em um dia ele vendia o mesmo que os colegas mais novos vendiam o mês inteiro. Só que abusava as vezes, ele era bom e sabia disso, aí começava a chegar atrasado, saía mais cedo, tinha regalias por ser "o craque do time", "não treinava, mas na hora que a bola rolava, adivinha quem decidia o jogo?".

Em uma das passagens engraçadas que me lembro, já havia passado toda a parte da manhã, e onde estava Teté? Nada, nem sinal dele! Liguei pra ele e perguntei:

- "Ôh Paulo Henrique, cadê você?" , eu só falava o nome real quando ficava bravo com ele.

- "Ah Victor, aqui em casa eu vi que tava ameaçando chover, aí achei melhor largar mão e não ir", dizia ele.

Eu já conhecia a peça, e falava:

-  "Então, vou emprestar o seu carrinho para um menino que tava aqui me pedindo oportunidade pra vender picolé".

Na mesma hora ele dizia que já estava chegando, pra não deixar ninguém mexer nas coisas dele. E o pior, em metade do dia, ainda assim, o malandro vendeu uma quantidade absurda de caixas e mais caixas de picolé, compensando todo o período que faltou pela manhã. Exigente, uma vez ficou irado quando descobriu que um vendedor concorrente ia ganhar uniforme novo e um carrinho-bicicleta, podendo trabalhar pedalando, sentado, e ele lá, empurrando carrinho. Reclamou tanto na minha cabeça, que eu tive que endurecer com o fornecedor para arrumar todo equipamento igual para ele; quando chegou, os olhos brilhavam como uma criança ganhando um brinquedo novo, ou da mesma forma que ele mesmo ficava sempre que eu trazia de presente qualquer adesivo, camisa, boné, chaveiro, caneta ou qualquer coisa com o símbolo do Flamengo, ou é claro, quando ele falava sobre o amor e o orgulho que tinha pela família dele. Com o carrinho-bicicleta em mãos, ele corria e dava voltas no mesmo lugar, como um garoto que ganha a primeira bicicleta, com um sorriso de orelha a orelha, derrubou até algumas cadeiras da lanchonete no dia, fazendo estripulia.


Foi uma parceria longa e de sucesso. Mas certo dia, eu decidi que gostaria de mudar de emprego, visto que aquele trabalho de administrador da lanchonete era cansativo e estressante, minha saúde não estava legal, então eu precisava parar. Me lembro que Teté ficou "emburrado" comigo por semanas, falando que eu não podia vender a lanchonete, que eu ia abandonar os amigos, até que foi obrigado a aceitar a ideia, e no último dia de trabalho juntos, a gente se despediu como de costume, e ele disse que não gostava de despedidas, então naquele dia, ele ia embora sem olhar pra trás, não gostava de choradeira e a gente iria se ver por aí. Nos encontramos algumas vezes depois, era sempre uma alegria, gargalhadas, gostávamos muito um do outro, e ele vivia espalhando por aí que patrão igual a mim não existia, que já teve bons patrões, mas que eu era o "melhor patrão que ele teve".

Enfim, são inúmeras histórias juntos, muitas conversas, muito aprendizado, eu levaria semanas para contar tudo, Teté é o tipo de amigo marcante, que você leva para a vida inteira. 

E por que estou contando essas histórias, bem agora? Algumas pessoas com a voz embargada me ligaram dizendo que você partiu, meu amigo. Como assim cara, sem nem avisar? Eu não consigo acreditar, tenho a sensação de que isso é mais uma das suas brincadeiras. Mas de toda forma, para garantir, sei que uma lenda só morre caso quem tenha presenciado sua história genial, não fale a respeito, ou não registre isso de alguma forma. Lendas jamais morrerão, pois uma vez que suas histórias forem contadas, lendas se tornam imortais.

Então essa função cabe a mim, meu amigo, eu sou a prova viva, eu presenciei com meus próprios olhos a lenda do maior vendedor de picolé que já existiu em todo o Sul de Minas Gerais, mesmo disfarçado as vezes de porteiro de escola, alugando brinquedos na praça ou vendendo outras coisas, está aqui registrado a sua real vocação, que você amava fazer, ainda mais naquele paraíso, aquele parque que você tanto amava, e aqui está explicado o seu status de lenda; e nem adianta falar que preciso de provas, pois como você, sou um homem de palavra, "se falei, tá falado".

Não gosto de despedidas também meu amigo, então prefiro virar de costas e não olhar para trás te vendo embarcar. Boa viagem meu amigo Teté, espero que em algum parque bem bonito e florido, você continue sendo essa alegria para todos, permanecendo feliz e quem sabe, ainda tenha uns picolés por aí, mas não precisa mais vender, basta ficar contando as prosas boas de sempre. No final da vida, daqui a muitos anos, eu chego para te visitar, guarda um La fruta de Morango pra mim, aquele azedo, que você sabe que eu gosto. Até breve meu irmão, que Deus e sua tão amada Nossa Senhora te acompanhem sempre. Acha que eu tô chorando? Me erra rapaz, uso lente e só caiu um cisco no meu olho, ahhhh, vai arrumar o que fazer! A gente se vê por aí...


Ass: "O melhor patrão do mundo" coisa nenhuma, e sim, o amigo fiel do melhor vendedor de picolé que já existiu, a lenda!

Texto em homenagem ao querido amigo Paulo Henrique da Silva, o Teté:

In memorian:
19/06/1965
12/06/2018 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O homem do queijo


Esses dias, fui comer um pedaço de queijo, e isso me levou à uma grande viagem, vindo várias lembranças boas em minha mente. Como é estranho perceber que coisas que passam despercebidas, tantas vezes marcam tanto, a ponto de bater uma saudade boa daqueles tempos. Nem sempre fazemos coisas de propósito, e muitas vezes, sem perceber, estamos sendo observados por quem você menos espera. Com vocês: "O homem do queijo".

Essa história se passa nos meus bons tempos de pós-graduação em minha área da Psicologia, onde eu morava em Minas Gerais e, uma vez por semana, ia ao Rio de Janeiro estudar e trabalhar, durante quase 2 anos. Era uma rotina cansativa, de viagens constantes, onde eu ia e voltava várias e várias vezes. E cerca de uma vez por mês, um senhor ia vender seus queijos para clientes, alunos e psicólogos, que naquela clínica escola, atuavam.

Me lembro que eu embarcava no primeiro ônibus, rumo ao RJ e ia direto para a clínica, estudava, fazia meus atendimentos, e voltava para dormir na casa dos meus pais, por uma noite, voltando então para MG. E uma vez por mês, eu avistava aquele senhor, que não aparentava ter muita idade, ainda assim tinha um rosto sofrido, mas sorriso fácil, boa gente. Ele estava sempre indo, uma vez por mês, vender seus variados e deliciosos queijos.

Nas horas vagas, eu ficava enrolando, deixando o tempo passar e lá estava o homem do queijo, me oferecendo uma fatia para degustação, e eu brincava com ele, dizendo que morava em MG, e tinha facilidade de conseguir queijos de boa qualidade, a preços mais baratos. Ele ainda assim insistia para que eu provasse uma fatia, pois dizia que os queijos para degustação iriam ser consumidos ali mesmo; e eu então acabava provando e papeando com ele.

Já pelo final do curso, em um desses dias, eu fui tomar café mais uma vez e provar uma fatia daquele queijo, e brinquei com "o homem do queijo", dizendo que iria acabar o curso e até aquele dia não tinha comprado um queijo dele. Ele então sorriu e me disse uma coisa que me marcou muito: "sabe rapaz, vendo esses queijos em muitos lugares, e em vários lugares de gente chique igual a esse. Tem tanta gente que experimenta meus queijos e nem sequer olha para minha cara, nem agradece e acha que é minha obrigação dar os queijos para eles comerem. Você e um pessoal daqui, são diferentes, você fala com 'a gente', vê que 'a gente' é gente também, conversa de igual pra igual, olha pro rosto 'da gente' e trata 'a gente' que nem gente. Você não precisa comprar, só essa prosa boa já vale a pena. "

E essa foi uma das grandes lições daquele curso de pós-graduação, e que talvez eu não esqueça nunca. Até hoje eu não sei que nome tinha o "homem do queijo", ainda assim o considero um bom velho amigo. Talvez as pessoas que o ignoraram nem tenham feito por mal, estavam focados em outras coisas, preocupados com suas próprias vidas. Ainda assim, admito que "passei na prova" pessoal com o relato inesperado do lendário "homem do queijo"! 

A propósito, depois da lição que ele me deu, comprei como homenagem, um dos seus queijos!


 #Nuncaétardeparamudar 

terça-feira, 28 de outubro de 2014

A culpabilização!



Há poucos dias, ocorreram as eleições presidenciais para a nossa república (Brasil), que culminaram na reeleição da presidente Dilma, do PT. Como em toda democracia, venceu o voto da maioria, apesar da diferença muito pequena entre os candidatos envolvidos, e a disputa ideológica dos eleitores, que já estava acalorada, pegou fogo de vez e vimos comportamentos lamentáveis de ambas as partes. Diante disso, eu fiquei me perguntando: De onde vem tanto rancor no coração? Por que tanta agressividade? No texto de hoje,"a culpabilização!"

Na minha opinião, o ser humano tem um grande problema. Primeiro, acha sempre que sua verdade é maior que a verdade do outro; e se acredita que algo é certo, pensa que toda opinião contrária é errada. Quando aprende algo em sua vivência, acha que seu ponto de vista é o único que existe, é difícil se colocar no lugar do outro e ver o mundo pelos olhos do outro. Quando sua vontade não se cumpre, acha que é mais fácil achar um culpado, do que abrir a cabeça, e tentar perceber o pensamento daqueles que pensam de forma diferente.

A partir daí, quem votou no candidato que ganhou, acha que estava certo, afinal, estava com a maioria; acha que a opinião de quem perdeu, estava errada, pois se perdeu, a resposta veio nas urnas. Quem perdeu, se sente ofendido, por pensar que as pessoas do lado oposto são ignorantes e não sabem o que fazem. Independente do lado que saísse vencedor, as respostas seriam as mesmas, os ataques seriam os mesmos. O preconceito e as ofensas infundadas, desmedidas, seriam os mesmos. Reclamamos como crianças mimadas que não ganharam o doce que tanto queríamos de nossas mães, batendo o pé e falando "agora também eu vou morar na casa da minha vó, vou arrumar minhas malas e ir embora, hummm".

Depois, em todo lugar que você conheça, sempre existe um espírito de porco (na verdade eu queria dizer filho da p...mas espírito de porco é mais apropriado), que abre fogo e dá o primeiro tapa, ofende a honra do outro, pegando o ponto onde acha mais fraco e cutucando essa ferida. Acaba que rico ofende pobre, pobre ofende rico, sulista ofende nortista, nortista ofende sulista e vira aquelas brigas em que você entra e nem sabe com quem está brigando, quem é do "seu time", quem não é. Quando você vê, está dando porrada no cara do seu time, vira uma anarquia, uma zona.

A questão é, a maioria que se revolta, generaliza. Todo mundo entra no jogo, mas APENAS um pequeno grupo de pessoas, participou e ofendeu,e todos são culpabilizados e responsabilizados por tudo. Como ouvi "vocês sulistas são todos idiotas, merecem a morte", "vocês nordestinos são um bando de ignorantes". Não se ofendam com o que vou falar, mas ignorantes somos TODOS NÓS, e mais ignorantes ainda, são aqueles que ACHAM QUE SÃO MAIS INTELIGENTES QUE OS DEMAIS. Explicando: a pessoa que é realmente mais sábia, admite a sua ignorância, admite que não sabe tudo e nem tem como saber. Se o sábio admite sua ignorância, e os que acham que são os donos da verdade, não admitem que possam estar errados, no final, acaba que todos somos ignorantes, pois para o sábio de verdade, rótulos são apenas rótulos.

Lembre-se que o ódio não se vence na mesma moeda. Que razão você tem de reclamar de ser ofendido inocentemente, quando responde ofendendo à um pequeno grupo, generalizando como se eles representassem um TODO? Eu vejo que estamos ficando muito amargos, enquanto não admitimos que ganhamos e perdemos JUNTOS. Acima de partidos, somos brasileiros; acima de brasileiros, somos humanos! Se queremos mesmo não só um Brasil, mas um mundo melhor, sejamos NÓS a mudança!

#Nuncaétardeparamudar

Nunca é tarde para mudar - 3 anos (nova fase)

Olá meus queridos leitores!

Com quase 10 dias de atraso, venho comemorar aqui com vocês, mais um ano de vida do nosso querido blog. Esses dias uma pessoa veio me perguntar se o blog estava abandonado, e eu respondi : até parece estar, mas na verdade o autor (este que vos fala) está em reflexão. Ainda assim, fico contente de ver que as visitas ainda assim ocorrem, surpreendentemente. Estou passando por uma fase intensa de reflexão pessoal, e acredito que futuramente, virão muitos textos e novidades pela frente, e deixo claro que existe total intenção de continuar o "Nunca é tarde para mudar", talvez ampliando, talvez nem mesmo mais neste domínio. Peço à todos que curtem meus textos que aguardem um pouco, pois garanto que novidades virão, e quando ocorrer, aqui vocês serão os primeiros a saberem. Eventualmente, mesmo envolvido em outros projetos, entre eles o futuro do "Nunca é tarde para mudar", postarei alguns textos novos, sem tanta assiduidade, sem tanta frequência, mas espero que com conteúdos interessantes, com o mesmo perfil de sempre, deste autor que não se cansa de mudar e de se conhecer cada vez mais. Deixo um beijo e um abraço carinhoso para todos os leitores que passam por aqui, e que não me esquecem nem mesmo quando preciso de uns tempos para pensar em mim mesmo. Cuidem-se bem, e até logo meus queridos!

Victor Neves

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Filhinho de papai


Um dia desses, uma pessoa com a intenção de me ofender, soltou comentários maldosos de que eu era um "filhinho de papai". Fiquei sabendo, e dei muitas risadas à respeito disso, e resolvi aproveitar para contar um pouco quem é o meu pai, e o que penso do assunto. Com vocês: "Filhinho de papai".

Conta a lenda, que meu pai quando criança, era um dos garotos mais arteiros da face da Terra, era expulso de escolas por aprontar na hora do recreio, por mau comportamento, vivia cercado de confusões e até hoje tem histórias super engraçadas para contar. Hiperativo e inquieto, sempre que ficava nervoso mordia a língua e falava ao mesmo tempo, andava de um lado para o outro. Mas o que poucos sabem, é que essa é apenas a fachada do meu pai.

Desde que eu tenho lembrança, só consigo enxergar quem é o sujeito por trás desse jeito dele. Acompanhou desde meus primeiros passos, até eu me tornar o cara que sou hoje, casado, dono da minha própria vida. Não teve um dia na minha vida, sequer, que ele estivesse ausente, mesmo que por mensagem, por telefonema. É um dos maiores parceiros, meu ídolo, um dos grandes poucos amigos sinceros e leais que a vida me proporcionou.

Me lembro de algumas ocasiões que mudaram a minha vida, através do exemplo dele, como a vez que ele chegou em casa, com a camisa branca coberta de sangue, e todos em casa ficaram apavorados, e ele contou com a rotineira mania de morder a língua, que um carro atropelou uma senhora e não parou para socorrê-la; ele então parou o carro, tirou a camisa, enrolou na cabeça da senhora, e não esperou a ambulância, pois talvez não desse tempo de salvar aquela senhora. Resultado, ele a salvou, independente das consequências que isso poderia ter causado, o coração dele sempre foi muito maior que a razão.

Esse é o meu pai, o cara que nunca foi um doutor, nunca fez nenhuma grande invenção, nunca foi famoso ou importante perante a maioria das pessoas, trabalhava numa loja de materiais de construção, carregava sacos de cimento nas costas, vivia sujo e machucado por conta dessa dura profissão por muitos anos; o mesmo cara que quando ia buscar eu e meu irmão na escola, parava o carro na esquina, com medo que tivéssemos vergonha dele.

O que ele não sabia, é que ele sempre foi o nosso super herói, o cara que você pode contar a qualquer dia e qualquer hora, e que NUNCA tivemos vergonha, um dia sequer. Tivemos e temos pra sempre, muito orgulho de sermos "filhinhos do papai", ao contrário de tantos filhos que não tem a mesma sorte que eu e meu irmão tivemos. Eu nunca vou renegar você meu pai, ser teu filho pra mim nunca será ofensa alguma, é uma das maiores honras que tenho na vida: ser filho do meu pai!


quarta-feira, 12 de março de 2014

Valorizando ainda mais


Escutei ao longo da vida, pessoas dizendo que diversas pessoas quando se casam, ou saem de casa, esquecem das pessoas que amavam antes, esquecem da família, dos pais, para centralizar suas atenções à vida de casal apenas. Hoje eu sou casado, e posso dizer que meu sentimento é o oposto disso. É maravilhosa a vida a dois e viver com a pessoa que você ama e escolheu para ficar ao teu lado, mas casar nos abre os olhos e nos faz enxergar ainda mais quem são as pessoas importantes em nossa vida e o quanto já fizeram e ainda fazem por nós, o quanto nos ajudam e nos ajudaram. Com vocês: "Valorizando ainda mais".

Tem coisas que julgamos ser tão simples de se fazer, que nem nos damos conta da importância, como por exemplo, cuidar da casa, lavar, passar, cozinhar, jogar o lixo fora. Quantos dias víamos nossos pais cansados, fazendo as atividades do lar, na maioria das vezes sem reclamar. No final do mês, as contas estavam pagas, nossa roupa cheirosa, passada, limpinha, arrumadinha no armário. Cafezinho fresco na garrafa térmica, comida gostosa em nossas refeições, tudo simplesmente estava lá.

Quando a gente sai de casa, é que a gente percebe o quanto já fomos ingratos. Quantas vezes eu reclamei quando a refeição demorava a sair, ou quando era algo que eu não gostava de comer; quantas vezes reclamei que determinada camisa ainda não tinha sido lavada, ou pior, o quanto eu ficava irritado quando a camisa preferida manchava na hora de lavar ou era queimada pelo ferro, ficando impossibilitada de ser usada mais uma vez.

Lembro com certa vergonha, que meus pais por exemplo, chegavam a pedir desculpa por demorar, estragar ou não fazer do jeito "certo". Tantos anos depois, eu me sinto envergonhado vendo que não existe "jeito certo", e o quanto meus pais tinham valor, o quanto cuidavam de mim. Não era tão fácil quanto parecia ser, eu fui um bom filho, até ajudava sim nas coisas de casa, mas atualmente vejo que fiz muito pouco, e o quanto eu poderia ter sido melhor, e ajudado muito mais.

O problema dos filhos, assim como eu, é cobrar demais dos seus pais, e cobrar pouco de si mesmos. Achar que os outros tem qualquer tipo de obrigação de cuidar de nós, o tempo todo. Temos problemas como todo mundo, assim como nossos pais sempre tiveram. Então o conselho que posso dar é, valorizem mais, agradeçam mais, sejam gratos. E mais, ensinem para seus filhos que as coisas não caem do céu, e todos carregam sua cruz; ajudar em casa é obrigação, não um favor. Afinal, quanta gente cuida de você, sem te cobrar nada em troca?! Não queira só ser cuidado, cuide você também!


#Nuncaétardeparamudar

TOP FIVE - FEVEREIRO

19/01/2012, 8 comentários


06/10/2012, 4 comentários


05/06/2013, 4 comentários


11/04/2012, 1 comentário


06/02/2012, 3 comentários